::anotações sobre luz/sombra


Era pra ser doce. E eu sigo desconfiando seriamente de mim mesma e de minhas papilas gustativas, tenho problemas.Mas nem me assusto, te assusto. Queria a claridade turva de um imenso céu nublado, [branco] assim desse jeito, que é para que você se vesse.Há uma casa castanha em meus olhos. Abandonada de céu , ela segue ainda nublada. Há uma pinta na pupila que mancha de meu o resto do mundo, carimbo visual que pontua o que me asseta. Paisagem. Consegue ver isso tudo? Chega aqui perto, olha. Eu olho o seu olho. Eu bem que te disse,lembra?[eu me vejo através do que você me vê].Você ri e acha tudo embolado, meio complicado. Eu nunca fui muito simples mesmo,né. Minto, na verdade sou simples, meu problema é que sou prolixa e mentirosinha. Meu problema é gostar de palavras e gente sem palavras.E isso eu não perdoo,me denuncio - falo de estranhamentos que, alheia, acho serem só meus. Me aproprio indevidamente de sensações e esquisitices, patenteio.Tenho possessividades com essas coisas e você sabe. Quando pressinto entendimento, compreensão do que digo de mim, esquivo. Lá vai [ainda ela] correndo pelas rédeas do sentido, deixando os cabelos para trás, loiros como nunca. Na verdade eu não quero mesmo é que descubram essa armadilha de desenho animado que cavei aqui bem no fundo. Um fosso e um tapetinho bordado. Não quero que descubram esse fosso infundado, onde montei uma gangorra que arrebenta meus joelhos contra a parede úmida. Mas eu digo do fosso e nem sempre digo bem. Isso é minha intimidade, digo do frio e do escuro que é, reclamo. Acho que a casa castanha tem a ver com isso [esquivo de novo mas você me busca], digo da fauna que lá habita, digo do medo [bobo] que ás vezes sinto desses "coisinhas".Falo do fosso e da minha voz lá dentro, falo de [eus].Te conto de musguinhos e de carpetes decorativos, eu comprei [ invisto em amargurinhas].Digo também das minhas coleções, falo dos destroços, falo dos baús semi-fechados , da caixa de mármore branca, de minhas fortunas recuperadas, falo de muita coisa que guardo aqui dentro. Digo até a temperatura da coisa, eu pecilotérmica. Com você algo acontece, para além do fosso e do tapetinho,Survivorman. Você, com suas técnicas dribla minhas artimanhas e olha pra baixo. Eu deixo que chegue muito perto, percebe? Falo tudo e tanto. Eu confio e deixo você olhar ali debaixo do tapete [por mais que não deixe você entrar].

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