Demitido o bom senso ficam as coisas, temporariamente, mais fáceis. Lacuna improvisada, gafe anos ensaiada, fenda de vestido bruscamente calculada entre um gesto e outro. Esse improviso, duvide baby, é manipulação. Pura experiência vestida de falsa inocência. Sou eu testando, milímetro após milímetro, a tonelada sobre seu coração. Sou eu de sempre, avulsa, escolha feita, que sai às vezes soturna pela noite, a fim de aplacar o que sobra de minha reclusão celibatária. Não se ofenda, nem a mim. Se não entende parta com essa coisa incógnita na boca, guarda segredo e uma interrogação, guarda historia pra contar a alguém meio místico, matemático, psicólogo ou simplesmente alguém meio sensível. Guarde entre os dentes, num quarto sótão, onde ficam aquelas historias inacabadas que sobram ameaçadas e amassadas no lixo do escritor ruim, aquelas que não esperam mais desfechos. Essas que ficam por anos ou toda vida. Agora, se quiser entender. É melhor calcular bem as passadas: não ouse mais que minha própria covardia te convida. Calcule comedidamente para não perder o ponto, cara. É trabalho duro esse de driblar a minha mania de historias não escritas, sussurros, qualquer insinuada, improvisada. Eu desembolo e antiquário aquilo que você esconde no sótão. Eu coleciono.
Um comentário:
Chiristiane, sua escrita é perfeita. Porque toda vez que a leio me sinto presa. Viajo e me identifico de alguma forma. Uma frase encaixada, que de princípio parece solta.
De uma criatividade ímpar, adoro tudo isso. O rumo errante de uma escrita livre e libertante.
"Eu desembolo e antiquário aquilo que você esconde no sótão. Eu coleciono."
Destaco esta...sendo gostei de tudo.
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