[deve ocorrer em breve
uma brisa que leve
um jeito de chuva
à ultima branca de neve
paulo leminski]
querido,
algo estranho acontece por aqui.
você não acreditaria se não fosse eu a te contar: neva.
sim, neve mesmo, foquinhos frios e branquinhos
como sorvete de algodão [imagino que seja].
estamos assustados,
metereologistas e astrólogos contemporizam,
místicos e visionários arautam desgraças,
temores , fins-de-mundos.
não há flora nem fauna sustentável,
nem sóis e luas,
só um tempo cinza
e constantemente hipotérmico .
mas eu guardo uma felicidade inconfessa,
é tudo tão bonito.
é como se eu não tivesse mais sozinha,
é como se eu fosse tempo,
é como se eu me estendesse ao mundo,
é como se eu doesse menos,entende?[eu sei que sim]
a virtude disso tudo é que falta-se muito no frio
para se ter sentimentos extremamente passionais:
estou adormecida e segura aqui,
respeitando, de janelas fechadas,
a delicada ecologia de meus delírios.
[ouvindo o piano]
quem sabe você aparece, há tempo.
escrevo na semana que vem.
beijo.
[uma consideração,um epitáfio-prefácio]
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