"Gosto de dizer que tenho um dragão que mora comigo, embora não seja verdade. Como eu dizia, um dragão jamais pertence a nem mora com alguém. seja uma pessoa banal igual a mim, seja um unicórnio, salamandra, elfo, sereia ou ogro. Eles não dividem seus hábitos. Nonguém é capaz de compreender um dragão. Que poderia compreender, por exemplo, que logo ao despertar (e isso pode acontecer em qualquer horário, já que o dia e a noite deles acontecem para dentro) sempre batem a cauda três vezes, como se estivessem furiosos, soltando fogo pelas ventas e carbonizando qualquer coisa próxima num raio de mais de cinco metros? Hoje, pondero: talvez seja a sua maneira desajeitada de dizer: que seja doce." [caio fernado abreu]
o meu dragão não dorme nunca
quando eu atenciosa me atraio
ele fecha os olhos e finge
o meu dragão me comeu
incompreensivo: tostou percepções
me condenando a vigílias constantes
o meu dragão me psicotiza em cobranças
exigências e manhas quentes
me presenteia sorrateiro com olhos móbiles
a distrair minhas outras ocupações
mas o meu dragão é inocente
de olhos abertos e respiração fenecente
espera infantil pelas borboletas
o meu dragão eu entendo
nada adianta
o meu dragão no escuro chora, incongruente,
medroso de claridades
e da solidão a qual as vezes me abandono
o meu dragão, num átimo-ato-falho
não mais entendo
sinto em rasteiras verbais
o meu dragão sou eu
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